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sexta-feira, 6 de agosto de 2010

PRAZER DE ENSINAR

Aline tem 4 anos e todo santo dia é uma batalha contra a mãe que grita para que ela coma salada, mas a recusa é total, permanente e sempre acompanhada de muito choro e muita lágrima.
Onde está o prazer de comer?
Naquele dia o autor do crime não está à mesa... Há quatro anos, ao menos, que o pai da menina diz alto e bom som, provocando sua esposa ao mesmo tempo em que lança um olhar matreiro em direção à filhinha: não sou vaca para ficar ruminando capim. O criminoso de nossa história de “prazer de aprender” tem um nome: o ensino.
Sim, nossos alunos adoram aprender. Viu como são craques em videogames? Como dominam e tiram tudo o que querem daquela maquininha chamada computador? Escrevem lindas mensagens aos amigos, compõem poesias e declarações de amor. Como se divertem e se comunicam através do celular. Como decoram todo o vocabulário inglês das canções da moda e dos termos da informática. Como fazem contas para saber de quanto vai ser a “cantada” no pai para completar a mesada e poder comprar o tênis de grife.
E no entanto, as aulas de português são um suplício, as de inglês um inferno, as de matemática é melhor não dizer em público o que dizem que elas são, das outras nem se fala então... Sem comentários.
Alguma coisa está podre no reino do ensino.
Prazer de aprender rima com prazer de ensinar.
Quando a criança é pequenina e tem a sorte de ainda não ir para a escola, tudo o que está aprendendo é na base da brincadeira e cercada de muito incentivo e de muito sorriso. Olha que gracinha: ela já bate palminhas. Veja como diz papai, mamãe, bebê. Come, filhinho, vê como é gostoso. Que graça quando ela diz que conta até dez: um, dois, três, nove, dez, quatro, dois...
Você percebeu? É tudo estimulante, aplaudido, divertido, gostoso, prazeroso. Todo erro é acompanhado de uma correção suave, paciente e sempre incentivadora.
Por que então o prazer de aprender chega até o portão da escola e teima em não entrar?
Também, não vamos exagerar. Hás muita criança que adora a escola. Muitos adolescentes aprendem perfeitamente todo o conteúdo, têm imenso sucesso em sua escolaridade e terminam o curso superior com uma grande bagagem para se inserir no mundo do trabalho. Muito adulto existe que afirma com a cabeça erguida: tudo o que alcancei foi graças aos bons professores que tive durante minha vida escolar.
Aí está: atrás de todo grande aluno sempre se descobrem grandes professores.
Prazer de ensinar não cai do céu. Processo longo que começou naquele dia em que você decidiu ser professor, não porque não servia para outra coisa, mas porque almejava ajudar”os filhos dos outros” a aprenderem, a crescerem como gente e terem sucesso na vida.
E continuou por meio do investimento em si mesmo para aprimorar seus conhecimentos. Como é longa a caminhada de quem tem que aprender a vida toda, pois a ciência progride sem cessar e quem não acompanha as novidades fica para trás. Professor competente estuda sempre.
E prosseguiu com a busca de novas maneiras de ministrar aulas, procurando métodos inovadores que estimulem o interesse e a curiosidade do aluno. “Eu acho que vou conseguir passar esse conteúdo por meio de jogos, de gincanas, talvez. Na turma do ano passado inventei um sistema de pontos por equipes e a garotada se esbaldou em pesquisas originais e alcançou resultados que nem eu poderia esperar. Foi um esbanjamento de aprendizado.”
E mais que tudo: você descobriu, em contato com seus alunos e depois de se perguntar onde se situa a essência do ensinar, que o professor deve ser admirado e amado por eles. Por quê?
Por narcisismo. De jeito nenhum. Mas sim porque aprendizagem é obrigação e ofício do aprendiz, que terá interesse em aprender se perceber no mestre aquela motivação intrínseca que provoca e instiga no pupilo a garra para estudar sempre com todo ardor.
Professor motivador sabe estimular seus alunos a aprenderem com alegria.
Prazer intelectual é compartilhado pelo professor com seu aluno.
Ocorre quando o aprendiz e o mestre se olham um ao outro com admiração e estima.
Prazer de aprender é o reflexo no espelho do prazer de ensinar.

Egídio José Romanelli

8 comentários:

  1. Professores apaixonados fazem a diferença.

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  2. Penso que os conteúdos desenvolvidos em geral acabam por desencantar o alunado. Os currículos escolares são pouco atraentes, tratam de assuntos distantes da realidade de nossos alunos. Acho que uma reforma curricular é condição essencial para gerar motivação nos estudantes.
    Professores apaixonados realmente fazem a diferença, e governantes realmente comprometidos com a educação ( e não apenas em seus belos discursos ) também podem fazer a diferença.Vida longa ao blog do Jacintho !

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  3. Concordo com o companheiro Rafael em relação ao currículo escolar. Ao lado da avaliação (excludente, hierarquizada), o currículo desempenha um papel que apenas contribui para o quadro atual que afasta cada vez mais os alunos. Os alunos "estudam" para fazer provas, testes e trabalhos (que chamamos de avaliação), para passar à série seguinte. E os professores também trabalham para dar notas e passar o conteúdo, cumprir o programa. É como um processo industrial, cada um exercendo uma função delimitada previamente. Não vejo como discutirmos a fundo o processo de ensino/aprendizagem sem começar por uma discussão séria do currículo e da avaliação.

    Não gosto muito desta linha do pensamento educacional (falo do texto postado)que se assemelha a textos de motivação, estilo auto-ajuda. É como se dissesse que cabe ao professor conduzir sozinho o processo de aprendizagem, como se este não dependesse de uma série de fatores. Mais ou menos como a figura daquele craque do time de futebol que desejamos que ganhe a partida sozinho.

    "Professor motivador sabe estimular os alunos a aprenderem com alegria". Claro que um professor comprometido favorece em muito o processo, mas não podemos esquecer que há toda uma estrutura social (que inclui o próprio sistema educacional) que "trabalha" para que as coisas funcionem mal, porque assim tem que ser. Como desejar uma escola em que TODOS alcancem o sucesso escolar se a sociedade não terá vagas para todos nas universidades e nas empresas? Uma sociedade excludente só pode produzir uma escola excludente.

    Vejo que as iniciativas tomadas ultimamente no Jacintho são uma tentativa de reverter este quadro. O blog é fundamental para um diálogo permanente, que favorece a comunicação, geralmente um dos grandes problemas das escolas.

    Há um longo caminho pela frente, mas saber que estamos no rumo certo é um excelente começo. Façamos este caminho juntos.

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  4. Concordo com os dois colegas, que há muito que se renovar e que não podemos admitir que o professor carregue o fardo de uma culpa em relaçao ao fracasso escolar.
    "Prazer de aprender é o reflexo no espelho do prazer de ensinar". Acredito imensamente nessa frase, pena que ao longo dos meus 23 anos de magistério,o nosso sistema educacional não tenha contribuído para que o prazer seja uma constante.
    Apesar de tudo, aínda vejo na nossa classe um forte desejo de perseverar e lutar, haja visto, esse canal de comunicação aberto pelo Jacintho.
    Parabéns pelo blog, viu? Conseguiiiiiiiiiiiiii!

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  5. Parabéns pra você Rosania, estamos crescendo juntos.

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  6. Parabéns Rafael e Paulo Henrique! Gostei da participação de vocês!
    Obrigada

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  7. Ludmilla Souza de Paula13 de agosto de 2010 às 17:40

    É bom saber que temos , agora, um espaço democrático e aberto não só para expressar nossas ideias e opiniões, mas também para saber como pensam os nossos colegas que nem sempre temos a oportunidade de ouvir.
    Também não compartilho com essa linha de textos cujos discursos têm o objetivo de repreender "sutilmente" o professor, como se este fosse um incompetente total no quisito motivação e o eterno culpado pelo fracasso escolar. Como já disse o colega Paulo Henrique, "há toda uma estrutura social que 'trabalha' para que as coisas funcionem mal".
    Há muitos "culpados" pelo fracasso escolar e, se a representatividade maior é nossa, isso se dá apenas porque no topo da pirâmide existem os "poucos" que mandam e se eximem da culpa e na classe trabalhadora os "muitos" que obedecem e acabam sendo responsabilizados por esse fracasso.
    Em 26 anos de sala de aula, posso dizer que esforço não faltou pra me tornar um profissional melhor. Se ainda assim, não consegui chegar ao “ponto G” em minhas aulas de português, creio que, talvez, eu possa ao menos dividir a culpa com o meu aluno, que quer tudo, menos frequentar a escola. Afinal, como o texto diz: “Quando a criança é pequenina e ‘tem a sorte’ de ainda não ir para a escola, tudo o que está aprendendo é na base da brincadeira e cercada de muito incentivo e de muito sorriso.” E se há ambientes tão mais atraentes do que a escola, por que a culpa tem que ser nossa, do professor? Afinal, não fui eu quem fundou os moldes dessa instituição que, ao longo do tempo está cada vez mais falida!

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  8. Parabenizo a equipe escolar por nos conceder este espaço democrático para expor as nossas vitórias e aflições quanto as inúmeras tentativas fracassadas.
    Faço minha as palavras da minha amiga Ludmila, que se colocou de maneira brilhante em relação aos textos.

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